The Rise of U.S. Nuclear Primacy
Keir A. Lieber and Daryl G. PressFrom Foreign Affairs, March/April 2006
Tendo a atenção despertada por dois jornais russos, fui até o artigo acima, para confirmar a surpreendente notícia. Para se avaliar sua extraordinária importância, é necessário reviver um pouco a atmosfera da “Guerra Fria”.
A “guerra fria”: equilíbrio do terror , luta ideológica, guerras de “libertação”
Caracterizou-se este período histórico como um estado de beligerância latente entre o bloco das nações que caíram sob o jugo da Rússia comunista e as que, sob a liderança dos Estados Unidos da América, a ele se opunham. Estendeu-se desde a cessação das hostilidades da Segunda Guerra Mundial até (não incluída a China) a decomposição do império soviético. A Rússia comunista (URSS), imperando sobre o mais vasto conjunto de nações que a História já conheceu, e ameaçando expandir-se, por intervenção militar ou subversão politico-ideológica, pelo mundo inteiro. Nas Américas, a partir de sua “cabeça de ponte”, a infeliz Cuba de Fidel Castro. E, face a este “Império do Mal”, erguendo-se como “campeões” da liberdade, da democracia, os Estados Unidos da América, os grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial.
A luta ideológica dentro do “equilíbrio do terror”
A Segunda Guerra terminou com a capitulação japonesa, forçada pelo aniquilamento de Hiroshima e Nagasaki . Dado seu caráter de cidades sem importância militar, estes ataques devem ser considerados não apenas como tendo aberto a era atômica, mas também a do terrorismo, enquanto ataque a alvos civis com objetivo de quebrar a resistência psicológica da nação inimiga. Por “coincidência”, ambas cidades eram as de maior população católica no país do Sol Nascente.
Por constituírem os EUA o elo mais forte da cadeia de nações que resistiam à agressão comunista, abriram-se de par em par ( apesar dos nacionalismos estimulados pelas esquerdas) à influência americana as portas da maioria destas nações. Hollywood suplantou Paris, enquanto Meca da cultura ocidental. E debaixo do “guarda –chuva” atômico americano se abrigou o Mundo livre, vinculando-se aos EUA em várias alianças militares ( NATO, SEATO,etc.) ou de cooperação econômica. A corrida armamentista aparecia como a única alternativa realista face ao perigo soviético. O episódio mais dramático desta era ocorreu quando o equilíbrio de forças nucleares esteve ao ponto ser quebrado, com a instalação de foguetes soviéticos em Cuba, o que reduziria a quase nada a capacidade de reação dos EUA a um ataque do bloco comunista. Um ultimato de Kennedy fez Nikita Kruchev recuar, retirando às pressas os mísseis da ilha-prisão.
O fim da União Soviética
Com suas forças vitais enfraquecidas pela adoção de uma ideologia atéia e antinatural, que nega o direito de propriedade dos meios de produção (eliminando os estímulos do lucro e as vantagens da livre concorrência), como também debilita a família (equiparada a uma união animal) e fomenta o aborto (que hoje ainda contribui para a dramática diminuição da população russa com três milhões de assassinatos anuais...), o que não poderia deixar de acontecer...aconteceu ! Apesar de contar com recursos naturais quase inesgotáveis, o mamute soviético, mais pelo peso da própria estagnação (uma sociedade composta exclusivamente de funcionários públicos...), e pelo desencanto dos propugnadores de suas utopias...ruiu ! Apesar da derrota vergonhosa dos EUA* na guerra do Vietnam (comandada por Creighton Abrahms e sacramentada por Henry Kissinger...), a heróica resistência do Afganistão ocupado pelas forças soviéticas e rejeição sul-americana* da pregação castrista, constituíram-se em desmentidos cabais do mito da inexorabilidade da revolução social. Mais do que por exaustão na corrida armamentista, a União Soviética fracassou pela perda do próprio dinamismo e por não mais ter podido galvanizar com a esperança de vitória suas bases ideológicas comunistas ! Li em site russo o testemunho de um militante a respeito da sonolência das reuniões do Partido, onde apenas se acordava para votar, como todo mundo, moções que nem se tinha ouvido...
A Rússia na era pós-soviética
Embora haja sob as ruínas do comunismo correntes minoritárias definidamente comunistas, mesmo stalinistas, pensar num ressurgimento da União Soviética é mais do que utópico...A Rússia considera-se feliz por conservar ainda a sua própria unidade, apesar da conquista (da compra, diz-se...) da Ucrânia e da Geórgia pelos EUA. Depois dos governos (tidos por muitos como traidores...) de Gorbachev e Yeltsin, em que ela quase desapareceu - na crise econômica causada pelo choque da passagem sem transição de uma economia dirigida, para um “laisser-faire” absoluto, um “salve-se quem puder”, durante o qual minorias articuladas se apoderam do que puderam – a Rússia começa a soerguer-se, a reafirmar-se como grande nação. Já não mais (apesar do saudosismo de uns tantos) como um império de fundo ideológico, mas procurando conservar o que foi seu desde tempos anteriores à sua queda no comunismo. E isto, realmente, é muita coisa: uma extensão territorial gigantesca, recursos naturais estratégicos não menores, perspectivas de desenvolvimento únicas no mundo, sobretudo em vista das qualidades extraordinárias do povo russo... A Rússia - cujos despojos, planejava-se delirantemente dividir - não morreu, como esperavam...Mais ainda, reconhecendo o perigo nos olhares cobiçosos que a circundam, recompõe suas forças estratégicas, apesar das notícias em contrário...Esta é, resumidamente, a situação dentro da qual ocorre a publicação da matéria que deu origem aos presentes comentários.
Os Estados Unidos após o fim da ameaça soviética
Se a corrida armamentista era justificada pelo expansionismo soviético, com o virtual desaparecimento deste, passou a carecer de objeto a manutenção do caráter ofensivo das alianças que contra a Rússia se tinham constituído. A ameaça comunista mudou de polo: passou a estar centrada no enigmático comunismo chinês.
Cujos reais contornos parecem não preocupar os políticos nem a burguesia macro-capitalista que, ao contrário do rigor com que tratam a Rússia, objeto de todas suas suspeitas e difamações, tem injetado na economia chinesa - dirigida por um partido oficialmente comunista ! - capitais muitas vezes maiores.
O gigantesco e riquíssimo espaço pós-soviético passou a ser um terreno a ser desmembrado, ocupado, a qualquer preço e por quaisquer meios...Como explicar de outra forma as imensas despesas de manutenção, desenvolvimento e ampliação do poderio militar americano no mundo ? O que é, aliás, financiado até pela Rússia, que (inacreditavelmente !...) está comprando os títulos do Tesouro americano ! Dos quais a China está se desfazendo...
A “ameaça” terrorista
Quem já leu algo de mais concreto sobre as reais dimensões do terrorismo internacional, não pode deixar de reconhecer que é um perigo que, quando existe, é enormemente inflado pela Mídia Global. Sua façanha maior - alardeada como tendo inaugurado a era das ameaças globais, justificando assim intervenções também globais...- o chamado “Onze de Setembro”, além de estar sob gravíssimas suspeitas de ter sido pura e simplesmente forjado ( vide http://www.reopen911.org ), em termos de vítimas , não acarretou um centésimo das sacrificadas nos maiores atentados terroristas da História – os únicos perpetrados com meios de destruição em massa ! - Hiroshima e Nagasaki. Para não falar no terrorismo inerente aos selvagens bombardeios anglo-americanos dirigidos especificamente contra a população civil de Hamburgo e da inofensiva jóia histórico-arquitetônica da Alemanha, Dresden...Se há quem não tem autoridade moral para invocar o terrorismo para passar por cima do Direito Internacional, são os Estados Unidos da América !
Passagem da Legítima Defesa para o ataque “preventivo”
Com ausência de quaisquer considerações de ordem moral - assinalada pelos comentaristas russos - os articulistas do Foreign Affairs consideram a hipótese de uma hecatombe nuclear com a frieza irresponsável de um adolescente que busca a vitória num vídeo-game. O que importa é fazer vencer o próprio time no tabuleiro da política mundial !... A hipótese uma guerra real, implicando no sacrifício de vidas humanas – no caso de guerra nuclear, de nações inteiras - só pode ser aventada diante de perigo inevitável, eminente e iminente, quando foram esgotadas todas as possibilidades de uma solução pacífica. Caso contrário, configura-se cabalmente o crime de genocídio ! O perigo de uma agressão russa contra o mundo ocidental, que justificasse uma guerra preventiva, é simplesmente uma hipótese, sumamente inverossímil, a tomar como verdadeiro o quadro pintado pelos próprios articulistas !... O grande perigo que ameaça realmente, a prazo médio, a integridade da Rússia, é o expansionismo chinês. Disto estão bem conscientes seus atuais dirigentes, ao ponto de procurarem a todo custo – com campanhas pela proibição do Aborto e incentivos à natalidade – suprir a carência demográfica da gigantesca região além dos Urais, cuja população não passa de quinze milhões de (desencorajados...) habitantes. Uma guerra com os EUA significaria, senão o desaparecimento da Rússia, a perda da maior parte de seu território para a China. Cujos mísseis nucleares, conforme assinalado no artigo, não têm alcance para ameaçar os EUA, mas sim a Rússia asiática e os países vizinhos.
Perspectivas desta publicação
Foreign Affairs não representa oficialmente a posição do governo Bush...Mas sua importância se mede pelas repercussões do artigo na imprensa russa, que parece considerá-lo representando o pensamento dos clãs que subiram ao poder com George Bush (ou que lá o puseram...), intimamente vinculados com a direita israelense, buscando a qualquer custo a hegemonia mundial dos EUA e sumamente preocupados com a Crise Energética, que ameaça levar ao colapso a médio prazo as economias baseadas na superabundância dos recursos naturais. Que os americanos não estejam dispostos a renunciar ao “american way of life”, assumindo um modo de vida austero, adaptado às novas perspectivas, ninguém põe em dúvida. O fim do (mítico )estilo de vida consagrado pelo cinema acarretaria pura e simplesmente o fim desta miragem que seduziu o mundo, os States...Terá esta fascinação se transformado num vício tal, que para satisfaze-lo valha a pena arriscar a própria vida ?...
Nesta perspectiva, este artigo não deve ser encarado como um banal exercício de estratégia, de geopolítica ou de “futurologia”, mas como o ponto de vista de uma corrente poderosa, com capacidade de difusão, podendo transformar-se num plano de ação tragicamente real...se estas mentes friamente pragmáticas, materialistas, delirantes, conseguirem seduzir o povo americano com sua utopia de domínio universal. Ao preço mesmo de uma hecatombe nuclear...
Que fará a Rússia ?
Para supor o que alguém fará, é preciso saber colocar-se “na sua pele”...Qual é a situação da Rússia ? Antes de tudo, quem é o russo ? E quantos russos autênticos ainda há na atual Rússia, após sete décadas de comunismo e uma década e meia de propaganda hedonista ocidental ? Desde fins de 2004 frequento quotidianamente os sites russos, o que realmente seria pouco para poder dar por conhecido um país tão multiforme, um povo tão extraordinário, e com uma história tão densa e variada.
A Rússia, ao contrário dos EUA, nunca teve fronteiras seguras. Nem a oeste, para separa-la da Europa, ameaçadora pela superioridade qualitativa; nem a leste, das vastidões da Ásia, reservatório inesgotável de povos pagãos. Ao sul, o expansionismo muçulmano, representado sobretudo pela Turquia era contido pelo valor dos cossacos. A guerra, a disposição para o sacrifício da vida pela sobrevivência da Nação, sempre acompanhou a Rússia ao longo de toda sua história. Com a particularidade de que, se pelo perfil psicológico, o russo não é um povo tão dotado como outros para a guerra de conquista, quando atacado em sua terra natal, parece dela haurir forças para se transformar num povo de gigantes. Napoleão e Hitler quebraram os dentes na Rússia...E, contrariamente ao que nos apresenta a história made in Hollywood, o esforço de guerra alemão concentrou-se na frente leste, chegando, no fim da Segunda Guerra Mundial, a mandar apenas velhos e meninos para o front ocidental.
A Rússia reconhece ser objeto de uma guerra de conquista, de extermínio por parte dos EUA. Daí seus esforços para, apesar da aguda carência de meios, colocar suas forças estratégicas em condições de fazer face à chantagem nuclear americana. Mas há um fator novo, não mencionado no artigo em questão, entre os que dariam superioridade aos norte-americanos no equilíbrio de forças com os russos, muito mais decisivo do que os avanços na precisão e na capacidade de penetração das suas armas. E que reproduz, em sentido inverso, a situação que levou os EUA a arriscar uma guerra com a União Soviética, no caso da instalação dos mísseis em Cuba.
Os americanos estão na iminência de quebrar o relativo equilíbrio de forças com a Rússia, anulando completamente sua capacidade de um contra-ataque nuclear. Conquistando o apoio (leia-se, comprando...) de antigas repúblicas soviéticas, os EUA estão instalando nestes países um sistema de vigilância do espaço aéreo russo, o qual se acompanhado de sistemas de defesa anti-míssil, será capaz de abater os foguetes russos logo após o lançamento, momento de sua maior vulnerabilidade. O sistema chamado de “Guerra nas estrelas” não vingou porque previa a interceptação dos mísseis balísticos russos na sua reentrada na estratosfera, com sucesso duvidoso, dada a enorme velocidade de aproximação do alvo e a dispersão das ogivas de tipo MIRV (Multiple Independently targetable Reentry Vehicle).
Com a instalação de bases anti-míssil “nas barbas” da Rússia, os especialistas aparentemente loucos do Foreign Affairs têm
razão: é cheque-mate ! Os EUA podem arriscar-se a atacar a Rússia, com pouquíssimas chances de que ela possa revidar...
Ou a Rússia reage imediatamente, como Kennedy o fez...ou ela estará derrotada, para sempre !
Ela reagirá ? Como ?...
Estará a Rússia tão fraca assim ?...
No presumível afã de incitar o povo, sobretudo a classe política americana, a passar de uma atitude equilibrada de legítima defesa, à aceitação de uma agressão criminosa como a que propõe, os articulistas – surpreendentemente, para uma folha de tal prestígio...- ignoram (ou fingem ignorar...) insistentes notícias sobre a modernização do armamento estratégico russo. Putin anunciou a produção de novas ogivas nucleares que devem proporcionar à Rússia um avanço de muitos anos sobre seus adversários. No ano passado entrou em serviço o primeiro de uma série de submarinos estratégicos da nova geração, deslocando 24 000 toneladas (carregado de mísseis), com comprimento de 173 metros...De fonte não russa sabe-se que os foguetes russos são considerados os melhores lançadores de satélites de comunicação, com eficácia de 100% . O que levou a União Européia a contratar firmas russas para o lançamento da rede de satélites que devem constituir o sistema europeu de localização, de precisão geodésica (margem de erro menor que 1 m) e cobertura mundial, que a tornará independente do sistema GPS americano. O governo israelense parece ter ficado em pânico ao saber que a Rússia venderia à Síria sistemas de mísseis de última geração, tendo conseguido impedi-lo por violentas pressões. E a própria tripulação americana da estação espacial internacional é hoje abastecida...por foguetes russos.
Keir A. Lieber and Daryl G. PressFrom Foreign Affairs, March/April 2006
Tendo a atenção despertada por dois jornais russos, fui até o artigo acima, para confirmar a surpreendente notícia. Para se avaliar sua extraordinária importância, é necessário reviver um pouco a atmosfera da “Guerra Fria”.
A “guerra fria”: equilíbrio do terror , luta ideológica, guerras de “libertação”
Caracterizou-se este período histórico como um estado de beligerância latente entre o bloco das nações que caíram sob o jugo da Rússia comunista e as que, sob a liderança dos Estados Unidos da América, a ele se opunham. Estendeu-se desde a cessação das hostilidades da Segunda Guerra Mundial até (não incluída a China) a decomposição do império soviético. A Rússia comunista (URSS), imperando sobre o mais vasto conjunto de nações que a História já conheceu, e ameaçando expandir-se, por intervenção militar ou subversão politico-ideológica, pelo mundo inteiro. Nas Américas, a partir de sua “cabeça de ponte”, a infeliz Cuba de Fidel Castro. E, face a este “Império do Mal”, erguendo-se como “campeões” da liberdade, da democracia, os Estados Unidos da América, os grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial.
A luta ideológica dentro do “equilíbrio do terror”
A Segunda Guerra terminou com a capitulação japonesa, forçada pelo aniquilamento de Hiroshima e Nagasaki . Dado seu caráter de cidades sem importância militar, estes ataques devem ser considerados não apenas como tendo aberto a era atômica, mas também a do terrorismo, enquanto ataque a alvos civis com objetivo de quebrar a resistência psicológica da nação inimiga. Por “coincidência”, ambas cidades eram as de maior população católica no país do Sol Nascente.
Por constituírem os EUA o elo mais forte da cadeia de nações que resistiam à agressão comunista, abriram-se de par em par ( apesar dos nacionalismos estimulados pelas esquerdas) à influência americana as portas da maioria destas nações. Hollywood suplantou Paris, enquanto Meca da cultura ocidental. E debaixo do “guarda –chuva” atômico americano se abrigou o Mundo livre, vinculando-se aos EUA em várias alianças militares ( NATO, SEATO,etc.) ou de cooperação econômica. A corrida armamentista aparecia como a única alternativa realista face ao perigo soviético. O episódio mais dramático desta era ocorreu quando o equilíbrio de forças nucleares esteve ao ponto ser quebrado, com a instalação de foguetes soviéticos em Cuba, o que reduziria a quase nada a capacidade de reação dos EUA a um ataque do bloco comunista. Um ultimato de Kennedy fez Nikita Kruchev recuar, retirando às pressas os mísseis da ilha-prisão.
O fim da União Soviética
Com suas forças vitais enfraquecidas pela adoção de uma ideologia atéia e antinatural, que nega o direito de propriedade dos meios de produção (eliminando os estímulos do lucro e as vantagens da livre concorrência), como também debilita a família (equiparada a uma união animal) e fomenta o aborto (que hoje ainda contribui para a dramática diminuição da população russa com três milhões de assassinatos anuais...), o que não poderia deixar de acontecer...aconteceu ! Apesar de contar com recursos naturais quase inesgotáveis, o mamute soviético, mais pelo peso da própria estagnação (uma sociedade composta exclusivamente de funcionários públicos...), e pelo desencanto dos propugnadores de suas utopias...ruiu ! Apesar da derrota vergonhosa dos EUA* na guerra do Vietnam (comandada por Creighton Abrahms e sacramentada por Henry Kissinger...), a heróica resistência do Afganistão ocupado pelas forças soviéticas e rejeição sul-americana* da pregação castrista, constituíram-se em desmentidos cabais do mito da inexorabilidade da revolução social. Mais do que por exaustão na corrida armamentista, a União Soviética fracassou pela perda do próprio dinamismo e por não mais ter podido galvanizar com a esperança de vitória suas bases ideológicas comunistas ! Li em site russo o testemunho de um militante a respeito da sonolência das reuniões do Partido, onde apenas se acordava para votar, como todo mundo, moções que nem se tinha ouvido...
A Rússia na era pós-soviética
Embora haja sob as ruínas do comunismo correntes minoritárias definidamente comunistas, mesmo stalinistas, pensar num ressurgimento da União Soviética é mais do que utópico...A Rússia considera-se feliz por conservar ainda a sua própria unidade, apesar da conquista (da compra, diz-se...) da Ucrânia e da Geórgia pelos EUA. Depois dos governos (tidos por muitos como traidores...) de Gorbachev e Yeltsin, em que ela quase desapareceu - na crise econômica causada pelo choque da passagem sem transição de uma economia dirigida, para um “laisser-faire” absoluto, um “salve-se quem puder”, durante o qual minorias articuladas se apoderam do que puderam – a Rússia começa a soerguer-se, a reafirmar-se como grande nação. Já não mais (apesar do saudosismo de uns tantos) como um império de fundo ideológico, mas procurando conservar o que foi seu desde tempos anteriores à sua queda no comunismo. E isto, realmente, é muita coisa: uma extensão territorial gigantesca, recursos naturais estratégicos não menores, perspectivas de desenvolvimento únicas no mundo, sobretudo em vista das qualidades extraordinárias do povo russo... A Rússia - cujos despojos, planejava-se delirantemente dividir - não morreu, como esperavam...Mais ainda, reconhecendo o perigo nos olhares cobiçosos que a circundam, recompõe suas forças estratégicas, apesar das notícias em contrário...Esta é, resumidamente, a situação dentro da qual ocorre a publicação da matéria que deu origem aos presentes comentários.
Os Estados Unidos após o fim da ameaça soviética
Se a corrida armamentista era justificada pelo expansionismo soviético, com o virtual desaparecimento deste, passou a carecer de objeto a manutenção do caráter ofensivo das alianças que contra a Rússia se tinham constituído. A ameaça comunista mudou de polo: passou a estar centrada no enigmático comunismo chinês.
Cujos reais contornos parecem não preocupar os políticos nem a burguesia macro-capitalista que, ao contrário do rigor com que tratam a Rússia, objeto de todas suas suspeitas e difamações, tem injetado na economia chinesa - dirigida por um partido oficialmente comunista ! - capitais muitas vezes maiores.
O gigantesco e riquíssimo espaço pós-soviético passou a ser um terreno a ser desmembrado, ocupado, a qualquer preço e por quaisquer meios...Como explicar de outra forma as imensas despesas de manutenção, desenvolvimento e ampliação do poderio militar americano no mundo ? O que é, aliás, financiado até pela Rússia, que (inacreditavelmente !...) está comprando os títulos do Tesouro americano ! Dos quais a China está se desfazendo...
A “ameaça” terrorista
Quem já leu algo de mais concreto sobre as reais dimensões do terrorismo internacional, não pode deixar de reconhecer que é um perigo que, quando existe, é enormemente inflado pela Mídia Global. Sua façanha maior - alardeada como tendo inaugurado a era das ameaças globais, justificando assim intervenções também globais...- o chamado “Onze de Setembro”, além de estar sob gravíssimas suspeitas de ter sido pura e simplesmente forjado ( vide http://www.reopen911.org ), em termos de vítimas , não acarretou um centésimo das sacrificadas nos maiores atentados terroristas da História – os únicos perpetrados com meios de destruição em massa ! - Hiroshima e Nagasaki. Para não falar no terrorismo inerente aos selvagens bombardeios anglo-americanos dirigidos especificamente contra a população civil de Hamburgo e da inofensiva jóia histórico-arquitetônica da Alemanha, Dresden...Se há quem não tem autoridade moral para invocar o terrorismo para passar por cima do Direito Internacional, são os Estados Unidos da América !
Passagem da Legítima Defesa para o ataque “preventivo”
Com ausência de quaisquer considerações de ordem moral - assinalada pelos comentaristas russos - os articulistas do Foreign Affairs consideram a hipótese de uma hecatombe nuclear com a frieza irresponsável de um adolescente que busca a vitória num vídeo-game. O que importa é fazer vencer o próprio time no tabuleiro da política mundial !... A hipótese uma guerra real, implicando no sacrifício de vidas humanas – no caso de guerra nuclear, de nações inteiras - só pode ser aventada diante de perigo inevitável, eminente e iminente, quando foram esgotadas todas as possibilidades de uma solução pacífica. Caso contrário, configura-se cabalmente o crime de genocídio ! O perigo de uma agressão russa contra o mundo ocidental, que justificasse uma guerra preventiva, é simplesmente uma hipótese, sumamente inverossímil, a tomar como verdadeiro o quadro pintado pelos próprios articulistas !... O grande perigo que ameaça realmente, a prazo médio, a integridade da Rússia, é o expansionismo chinês. Disto estão bem conscientes seus atuais dirigentes, ao ponto de procurarem a todo custo – com campanhas pela proibição do Aborto e incentivos à natalidade – suprir a carência demográfica da gigantesca região além dos Urais, cuja população não passa de quinze milhões de (desencorajados...) habitantes. Uma guerra com os EUA significaria, senão o desaparecimento da Rússia, a perda da maior parte de seu território para a China. Cujos mísseis nucleares, conforme assinalado no artigo, não têm alcance para ameaçar os EUA, mas sim a Rússia asiática e os países vizinhos.
Perspectivas desta publicação
Foreign Affairs não representa oficialmente a posição do governo Bush...Mas sua importância se mede pelas repercussões do artigo na imprensa russa, que parece considerá-lo representando o pensamento dos clãs que subiram ao poder com George Bush (ou que lá o puseram...), intimamente vinculados com a direita israelense, buscando a qualquer custo a hegemonia mundial dos EUA e sumamente preocupados com a Crise Energética, que ameaça levar ao colapso a médio prazo as economias baseadas na superabundância dos recursos naturais. Que os americanos não estejam dispostos a renunciar ao “american way of life”, assumindo um modo de vida austero, adaptado às novas perspectivas, ninguém põe em dúvida. O fim do (mítico )estilo de vida consagrado pelo cinema acarretaria pura e simplesmente o fim desta miragem que seduziu o mundo, os States...Terá esta fascinação se transformado num vício tal, que para satisfaze-lo valha a pena arriscar a própria vida ?...
Nesta perspectiva, este artigo não deve ser encarado como um banal exercício de estratégia, de geopolítica ou de “futurologia”, mas como o ponto de vista de uma corrente poderosa, com capacidade de difusão, podendo transformar-se num plano de ação tragicamente real...se estas mentes friamente pragmáticas, materialistas, delirantes, conseguirem seduzir o povo americano com sua utopia de domínio universal. Ao preço mesmo de uma hecatombe nuclear...
Que fará a Rússia ?
Para supor o que alguém fará, é preciso saber colocar-se “na sua pele”...Qual é a situação da Rússia ? Antes de tudo, quem é o russo ? E quantos russos autênticos ainda há na atual Rússia, após sete décadas de comunismo e uma década e meia de propaganda hedonista ocidental ? Desde fins de 2004 frequento quotidianamente os sites russos, o que realmente seria pouco para poder dar por conhecido um país tão multiforme, um povo tão extraordinário, e com uma história tão densa e variada.
A Rússia, ao contrário dos EUA, nunca teve fronteiras seguras. Nem a oeste, para separa-la da Europa, ameaçadora pela superioridade qualitativa; nem a leste, das vastidões da Ásia, reservatório inesgotável de povos pagãos. Ao sul, o expansionismo muçulmano, representado sobretudo pela Turquia era contido pelo valor dos cossacos. A guerra, a disposição para o sacrifício da vida pela sobrevivência da Nação, sempre acompanhou a Rússia ao longo de toda sua história. Com a particularidade de que, se pelo perfil psicológico, o russo não é um povo tão dotado como outros para a guerra de conquista, quando atacado em sua terra natal, parece dela haurir forças para se transformar num povo de gigantes. Napoleão e Hitler quebraram os dentes na Rússia...E, contrariamente ao que nos apresenta a história made in Hollywood, o esforço de guerra alemão concentrou-se na frente leste, chegando, no fim da Segunda Guerra Mundial, a mandar apenas velhos e meninos para o front ocidental.
A Rússia reconhece ser objeto de uma guerra de conquista, de extermínio por parte dos EUA. Daí seus esforços para, apesar da aguda carência de meios, colocar suas forças estratégicas em condições de fazer face à chantagem nuclear americana. Mas há um fator novo, não mencionado no artigo em questão, entre os que dariam superioridade aos norte-americanos no equilíbrio de forças com os russos, muito mais decisivo do que os avanços na precisão e na capacidade de penetração das suas armas. E que reproduz, em sentido inverso, a situação que levou os EUA a arriscar uma guerra com a União Soviética, no caso da instalação dos mísseis em Cuba.
Os americanos estão na iminência de quebrar o relativo equilíbrio de forças com a Rússia, anulando completamente sua capacidade de um contra-ataque nuclear. Conquistando o apoio (leia-se, comprando...) de antigas repúblicas soviéticas, os EUA estão instalando nestes países um sistema de vigilância do espaço aéreo russo, o qual se acompanhado de sistemas de defesa anti-míssil, será capaz de abater os foguetes russos logo após o lançamento, momento de sua maior vulnerabilidade. O sistema chamado de “Guerra nas estrelas” não vingou porque previa a interceptação dos mísseis balísticos russos na sua reentrada na estratosfera, com sucesso duvidoso, dada a enorme velocidade de aproximação do alvo e a dispersão das ogivas de tipo MIRV (Multiple Independently targetable Reentry Vehicle).
Com a instalação de bases anti-míssil “nas barbas” da Rússia, os especialistas aparentemente loucos do Foreign Affairs têm
razão: é cheque-mate ! Os EUA podem arriscar-se a atacar a Rússia, com pouquíssimas chances de que ela possa revidar...
Ou a Rússia reage imediatamente, como Kennedy o fez...ou ela estará derrotada, para sempre !
Ela reagirá ? Como ?...
Estará a Rússia tão fraca assim ?...
No presumível afã de incitar o povo, sobretudo a classe política americana, a passar de uma atitude equilibrada de legítima defesa, à aceitação de uma agressão criminosa como a que propõe, os articulistas – surpreendentemente, para uma folha de tal prestígio...- ignoram (ou fingem ignorar...) insistentes notícias sobre a modernização do armamento estratégico russo. Putin anunciou a produção de novas ogivas nucleares que devem proporcionar à Rússia um avanço de muitos anos sobre seus adversários. No ano passado entrou em serviço o primeiro de uma série de submarinos estratégicos da nova geração, deslocando 24 000 toneladas (carregado de mísseis), com comprimento de 173 metros...De fonte não russa sabe-se que os foguetes russos são considerados os melhores lançadores de satélites de comunicação, com eficácia de 100% . O que levou a União Européia a contratar firmas russas para o lançamento da rede de satélites que devem constituir o sistema europeu de localização, de precisão geodésica (margem de erro menor que 1 m) e cobertura mundial, que a tornará independente do sistema GPS americano. O governo israelense parece ter ficado em pânico ao saber que a Rússia venderia à Síria sistemas de mísseis de última geração, tendo conseguido impedi-lo por violentas pressões. E a própria tripulação americana da estação espacial internacional é hoje abastecida...por foguetes russos.
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