"Foi ela anunciadora da terra cristã, como a alva precede o sol, como a aurora antes do amanhecer. Ela realmente brilhou como a lua na noite; assim ela resplandeceu entre os pagãos, como pérola no lodo; havia então gente poluída pelos pecados, não purificada pelo Santo Batismo. Ela própria lavou-se na santa pia batismal, e tirou de si a pecaminosa roupagem do primeiro homem, Adão, e vestiu-se no novo Adão, que é Cristo"
Onde nasceu e a que familia pertenceu a santa apostólica princesa Olga nos é desconhecido. Nas "Histórias dos tempos passados" «Повести временных лет», considerada a mais antiga crônica rus, conta-se que Olga foi trazida de Pskov para ser esposa do príncipe Igor. Alguns autores asseguram que ela é originária de Novgorod. Outros vêem nela uma filha de Oleg, que havia pouco tempo pendurara seu escudo nas portas de Constantinopla.
A favor de que a princesa não era eslava, mas nascera em família Varégue (escandinavos que migraram para a terra dos Rús), fala seu nome - Helga (ou Elga), cuja variante rus Olga ela adotou, afirma-se, em honra do príncipe Oleg, tutor do príncipe Igor.
A tradição narra que Olga foi educada nas crenças pagãs mas, por natureza, era "casta e sábia".
Igor, filho de Rurik, governando em Kiev, caçava nos limites de Pskov.
Um certo dia precisando atravessar o rio Grande, o príncipe notou um jovem que navegava pelo rio numa canoa e pediu para transportá-lo. Com o jovem remador, Igor percebeu Olga.
A moça era esbelta e bela, e "o coração do príncipe se inflamou". Olga percebeu as intenções do príncipe e o envergonhou, lembrando que o príncipe deve dar a seus súditos exemplo de conduta piedosa. A sabedoria e a ousadia de simples donzela surpreendeu o príncipe.
Voltando a Kiev, Igor compreendeu que se tinha enamorado de Olga e, por isso, tendo ordenado trazê-la de Pskov, tomou-a como mulher. Como comenta o autor da "Vida" de Santa Olga, ela "abandonou o leve remo de sua pequena barca, para depois colocar-se no leme da sociedade".
Nas crônicas nada se fala sobre o que as ocupações de Olga enquanto viveu seu marido. Mas nas "Histórias dos tempos passados" se apresenta um texto das negociações do príncipe Igor com os bizantinos (944 DC), onde o embaixador da princesa Olga ocupa o terceiro lugar entre as pessoas que tomaram parte nas negociações. Isto fala de que Olga tinha uma autoridade política limitada já antes da morte do marido.
Quando Igor foi morto pelos Drevlianos, Olga começou a dirigir o governo. Pode-se dizer que ela foi regente junto ao filho menor Svyatoslav.
A princesa renunciou a casar-se pela segunda vez e viveu o resto de seus dias em casta viuvez.
É conhecida a fracassada proposta de casamento do príncipe dos Drevlianos, Mala. Os primeiros embaixadores do príncipe, Olga ordenou trazê-los a um barco, jogá-los em buraco profundo e enterrá-los vivos. Outros mandou queimar vivos num banho. Sobre o túmulo de Igor, por sua ordem, os drevlianos foram embebidos em aguardente feita de mel e esquartejados.
Depois Olga voltou para Kiev, reuniu um exército e investiu contra os drevlianos.
Com ela na expedição estava seu filho menor de idade, Svyatoslav. Os guerreiros da princesa assediaram a cidade Iskorosten, cujos habitantes mataram Igor. O cerco durava já um ano inteiro, e perto do outono Olga decidiu tomar a cidade por astúcia. Ela propôs aos habitantes pagar-lhe um leve tributo – três pombas e três pardais para cada porta.
Eles se alegraram com isso e mandaram os pássaros à princesa, mas ela ordenou que em cada um deles atassem uma mecha em brasa e os soltassem.
Os pombos e pardais voltaram a seus ninhos. A partir das mechas arderam os celeiros, o feno e os tetos das casas...Não houve casa onde não começasse um incêndio. Os habitantes fugiram da cidade e os guerreiros de Olga os capturaram. E Iskorostien queimou até ficar reduzida a cinzas. Assim Olga se vingou dos Drevlianos pela morte do marido.
Depois disso a atividade de Olga teve um caráter fundamentalmente pacífico. Em todas a terras a ela submetidas, estabeleceu exatas medidas e prazos para o recolhimento de tributos. O poder dos anciães nas vilas gradualmente foi substituído pela administração dos funcionários da princesa. Assim começou o processo de centralização da sociedade. As reformas executadas por Olga foram altamente qualificadas por H.M. Karmzin, que escreveu que ela “por seu sábio governo demonstrou que uma fraca mulher às vezes pode nivelar-se com grandes homens”.
No local da confluência dos rios Pskova e Grande, Olga fundou a cidade de Pskov. Teve então uma maravilhosa visão: três vivos raios de luz briharam no meio da floresta. A sábia Olga entendeu que ali seria construída uma igreja no nome da Santíssima e Vivificante Trindade.
Tendo harmonizado os negócios internos do governo, Olga ocupou-se da política externa. Ela não realizou grandes campanhas militares, mas deu importância à diplomacia.Em grande parte graças a Olga estabeleceram-se relações estreitas, mesmo familiares com Bizâncio.
Quando Cvyatoslav cresceu, ela lhe deu a possibilidade de governar o estado russo, e ela mesma dedicou-se ao conhecimento da verdade. Pode-se conjecturar que a religião materna pagã era conhecida por ela até nos detalhes, mas com a sua ajuda não era possível nem de longe resolver todas as questões que interessavam a princesa. A cristandade, nova na terra Rus, não pode ter deixado de interessar Olga.
Embora nas “Crônicas dos tempos passados” fale-se de Olga com “a primeira dentre os Rus que entrou no Reino dos Céus”, na realidade o Cristianismo começara a espalhar-se em terras russas meio século antes do começo do governo da princesa. Simplesmente, batizava-se muito pouca gente.
Quem foi o instrutor da governante em matéria de Fé, não é possível dizer exatamente. È possível que este tenha sido Gregório, o qual, como se relata nas crônicas, acompanhou a princesa a Constantinopla. Pode ser que exatamente tenha sido ele aconselhou-a a ir a Bizâncio para melhor conhecer a Cristandade e, se ela quisesse, batizar-se.
Tendo equipado grande frota e reunido preciosos presentes, Olga partiu para a cidade dos Césares. O imperador Constantino VII Porfirogeneta e o patriarca Polyeucte receberam com honras a princesa rus. O dirigente cesáreo ficou tão encantado com a beleza e a inteligência de Olga que ofereceu-lhe casar-se com ele. Nesta ocasião tinha a rainha cerca de sessenta anos.
Recusar não era possível, pois isto poderia causar uma ruptura das relações diplomáticas e comerciais com Bizâncio.
Olga decidiu-se pela astúcia. Antes do casamento, pediu ela para ser batizada (já que um imperador cristão não poderia tomar como mulher uma pagã), e além disso foi escolhido como padrinho o próprio Constantino.
Quando depois do sacramento o imperador começou a falar em casamento, Olga com surpresa perguntou como poderia ele casar-se com sua afilhada, sendo isto proibido pela lei? A questão a propósito do casamento ficou assim decidida. Resta apenas perguntar-se como pôde o imperador perder o discernimento deste importante momento diplomático.
No batismo foi dado a Olga o nome de Helena, em honra da mãe de Constantino, o grande. Em questões de Fé, instrui Olga o próprio patriarca.
“Bendita és tu entre as mulheres de Rus, pois amaste a luz e abandonaste as trevas. Te bendirão teus filhos até as últimas gerações de teus netos!”- disse a ela o pontífice. A isto respondeu Olga: “Pelas tuas preces, senhor, seja eu guardada dos embustes diabólicos”.
Quando Olga voltou para Kiev, o imperador bizantino mandou a ela embaixadores, já que na volta a rainha prometera enviar-lhe peles e preciosidades.
Entretanto entregar os presentes através dos embaixadores ela recusou, respondendo que daria ao governante guerreiros, cera e peles somente no caso em que ele concordasse em hospedar-se em seu país. Os embaixadores de Constantino voltaram para casa sem nada.
O batismo de Olga teve não somente significado pessoal, mas também colossal importância nacional. Muita gente, imitando a princesa, aceitou a Fé verdadeira. O filho de Olga, Svyatoslav, recusou o batismo, explicando que os guerreiros de sua guarda, adorando os deuses pagãos, se ririam e perderiam o respeito ao príncipe que acreditava em um Cristo crucificado. Mas o neto de Olga, Vladimir, não só aceitou a verdadeira fé, mas também cristianizou a terra de Rus. Na ausência de Svyatoslav, que participava de campanhas militares, Olga se encarregou da educação de seus três filhos, Yaropolk, Oleg e Vladimir; mas ela não a fazê-los batisar por causa da oposição de seu pai, que continuava um pagão convencido.(R
Depois de Olga ter aceito a verdadeira fé, em nosso país, estabeleceu-se um nível mais alto em nossas relações com Bizâncio. Simbolicamente a nação passou a contar-se como filha de Bizâncio ( já que Olga tornou-se afilhada do imperador bizantino), e isto estabeleceu o começo de mais estreitas relações recíprocas dos governos. Então foi colocado o fundamento mesmo da idéia de Moscou como “terceira Roma”, imediata sucessora deste grande centro espiritual.
Por ordem de Olga começou-se a construir templos e igrejas. No ano de 960 em Kiev foi consagrado o templo de Santa Sofia da Divina Sabedoria. Sua mais importante relíquia foi a cruz doada pelo patriarca de Constantinopla.
Por mais que Olga tenha tentado fortificar em suas terras o Cristianismo, o paganismo de tempos em tempos levou a melhor.
O filho da princesa, Svyatoslav, ordenou matar alguns cristãos de Kiev e missionários alemães convidados pela mãe. No fim de tudo, para que as relações com o filho não rompessem definitivamente, Olga teve que conservar junto a si um sacerdote secretamente.
Em 969 ela caiu doente e tentou pela última vez converter o grão-príncipe, mas nada pode contra sua recusa obstinada. A santa princesa predisse então a próxima conversão de seu povo bem como o triste fim de seu filho, que foi assassinado três anos depois pelos Petchenégues.
A princesa morreu em 11 de julho de 969, tendo recebido os Santos Mistérios de Cristo. Por sua vontade, Svyatoslav enterrou a mãe segundo a tradição cristã no templo São Nicolau em Kiev, construído por Olga.
O corpo da princesa conservou-se incorrupto, e seu neto Vladimir transladou os restos da santa para a igreja da Assunção da Santíssima Mãe de Deus.
Olga Bogdanova
* Rus: Povo eslavo-escandinavo, que deu origem aos russos, bielo-russos e ucranianos.
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