terça-feira, outubro 21, 2008


Retorno ao cativeiro de amiga de Eloa é criticado pelo presidente da OAB-SP

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Luiz Carlos Siqueira Campos (Professor) - Curitiba (capital), PR - 21/10/2008 - 17:57

Num momento em que mais ninguém levanta questões de ordem moral – até um padre da moda de minha cidade ouvi recusar-se de ser tido como “moralista”...- tenho certeza que dificilmente se tirará as mais importantes lições desta trágica história. Mas este é o objetivo das considerações que aqui alinho. Vejamos os antecedentes da tragédia: O assassino foi “namorado” da vítima. O que, na sociedade permissiva do Brasil de hoje, significa exatamente este termo?...Em minha juventude, os passos para o matrimônio, instituição oficialmente constituída como base da família – ela, por sua vez, base da sociedade – eram:

- namoro: período em que os jovens em idade núbil se encontravam, sob a vigilância mais ou menos discreta, mas permanente, efetiva, das famílias, com o fito de se conhecerem de perto;
- noivado: era o compromisso já formal de casamento, durante o qual, sem comércio carnal entre os noivos, acertavam eles os detalhes da vida em comum que começaria com as núpcias. Ainda se lembram disso?  

Quanto eu possa saber, hoje a distinção entre “namorado” e “amante” (ou concubino), praticamente desapareceu...A não poucas de minhas desorientadas alunas tenho afirmado que “amor livre” é uma contradição de termos. Amor é doação...e é muito difícil, senão impossível, recuperar-se o que foi doado, sobretudo quando numa relação que deveria ser efêmera, experimental, se chegou na prática ao elemento mais vinculante, pela própria natureza, na sociedade humana, o ato de procriação.

Se houver dúvida a este respeito, analise-se as estatísticas dos crimes passionais. Creio que não se encontrará nenhum em que os protagonistas não tivessem tido relações carnais... E por que? Para que o amor se transforme em ódio, é preciso que ele tenha chegado a um auge que, normalmente, não ocorre numa relação contida como era o namoro de outrora. Ninguém mata por um sonho, por amor platônico. Não estou julgando o caso concreto, mas aproveito-o para introduzir este critério de análise.  

Verificado o seqüestro, o que deveria fazer a polícia?...Melhor dizendo, o que poderia fazer no Brasil de hoje?
Como disse o comandante de operação, se tivessem feito o que se faz em países não desvirilizados -onde, em princípio, todo seqüestrador é um assassino potencial e como tal deve ser tratado – ou seja, abate-lo fácil e seguramente com um tiro certeiro, teria sido linchado moralmente por uma opinião pública desfibrada. Sobretudo, por uma Mídia demagógica e hipócrita, que além de ser grandemente responsável pela decadência moral do país, se aproveita das situações que provocou para abalar o que sobra de nossas instituições. Desacreditando a moral tradicional, ela cria o caldo de cultura para o crime; depois, se aproveita dele para se promover, conseguir audiência; e finalmente desacredita sua repressão.

Como no rumoroso caso da menina jogada pela janela, vítima de um caso de concubinato, também a pobre Eloá será esquecida...ou lembrada apenas como doadora de órgãos.

Tomadas de reféns já constituem rotina no mundo ocidental, em função do apreço pela vida humana que ainda – com exceções escandalosas, como o aborto – faz parte do ideário oficial das chamadas “democracias liberais”. A vida do refém é o elemento de barganha utilizado pelo criminoso em vista de obter a vantagem intencionada. Mas, quando o criminoso tem suas vias de fuga bloqueadas, também sua própria vida é elemento da negociação que então começa.
Negociação que tem vários objetivos, da parte das forças da lei: 1.- conseguir a desistência do seqüestrador, com sua rendição pacífica, o que constitue o desfecho ideal da crise. 2.- Dar tempo à essas forças para elaborarem um plano, concentrarem recursos e propiciarem circunstâncias mais favoráveis para a execução da operação de resgate. 
Que condições de sucesso, no caso presente, haveria para um “final feliz”, não violento, em que as vidas das vítimas fossem salvas?

O que levou um antigo “namorado” a se lançar nessa aventura sem perspectiva de sucesso?
O que passou por essa cabeça febril depois de constatar que o desencadeado era irreversível?...É óbvio que, entre as várias hipóteses de solução do drama, considerou também a menos pior: entregar-se, ser julgado e pagar pelo que fizera. Cumprir pena, sim...mas onde?
 Lindemberg sabia o que são as prisões brasileiras. Sabia que, mais dia, menos dia, como é costume em nossas prisões, com conivência ou indiferença das autoridades carcerárias, seria “justiçado” pelos companheiros de infortúnio. Depois de violentado coletivamente, seria transformado em “mulherzinha” e acabaria aidético como tantos outros. Resumindo, para alguém que guarde um resto de hombridade, uma hipótese pior que a própria morte...E se é para morrer, então não morrer sozinho. Todos sabemos que as prisões brasileiras são antros diabólicos, onde a perversão domina impunemente. Não nos admiremos da violência dos criminosos.